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O caso Thaís Carvalho: a luta antirracista para além das #

Por Caio Ribeiro e Mirian Santos Lima.

Foto: Reprodução da Internet

Está na ordem do dia medir a importância de um acontecimento pelo seu nível de repercussão nas redes sociais. Para a comunidade do ciberespaço, se repercutiu no ambiente virtual, é importante. Contudo, essa repercussão em muitos casos não implica que dado acontecimento será capaz de alterar posturas e promover a reavaliação de valores, que de tão arraigados já foram naturalizados, necessitando para serem desnaturalizá-los de ações que possam ir além do seu noticiamento bombástico.

Acreditamos que o caso da estudante de Enfermagem Thaís Carvalho (30) seja exemplar da questão acima colocada. Prestes a se graduar em Enfermagem pela Faculdade de Ilhéus – instituição localizada em Ilhéus-Ba -, a estudante se voluntariou para participar da campanha de imunização contra a Covid-19 promovida pela Secretaria de Saúde do município. Decisão altruísta, digna de referências elogiosas, mas que quase foi interrompida pela chaga do racismo.

A discriminação racial da qual foi vítima a estudante, atenta contra os fundamentos do nosso sistema republicano. Isso não é mimimi! A Constituição Federal de 1988 determina, no Art. 3, inciso XLI, que “Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”; e no Art. 5º, inciso XLI, que “a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais”.

Impedida por um idoso (ainda não identificado) de vaciná-lo por ser negra, Thaís Carvalho sentiu os horrores de ser segregada em decorrência de seus traços fenótipos. Embora seja um absurdo em pleno século XXI, quando os avanços da engenharia genética há muito desbancaram a existência das raças humanas, subsiste na mente doentia de alguns, a ideia de que o negro seja destituído de intelectualidade, e por isso incapaz de se qualificar tecnicamente para o exercício de profissões com reconhecido prestígio social, por pertencer a uma raça inferior.

Então, pergunta-se: como é possível isso? A História nos informa ser preciso buscar no passado respostas às questões do presente. A escravidão criou o negro para desumanizá-lo. O objetivo era convertê-lo em besta, coisa, meio de produção, sermovente, ou seja, algo equivalente a um boi, vaca etc. Ao passo em que negou a humanidade ao negro, a escravidão e o racismo afirmaram a narrativa de que este, dado sua inferioridade racial, jamais atingiria o status de criatura civilizada, ou seja, de homem branco.

Daí, nesse momento em que as práticas racistas se agudam, é louvável que sejamos convocadas/os a expressar nosso repúdio ao racismo com raízes no passado perpetrado contra Thaís. Contudo esse infortúnio ocorreu na área da saúde, o que nos pensar na Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, hoje violentada por um governo que insiste em minimizar ou mesmo negar a existência do racismo. Lembremos que é um governo de homens brancos defendendo a pseudodemocracia racial.

Diante do ocorrido, alertamos que combater o racismo na saúde não é só fazer #, ou publicar fotos em grupos desaprovando-o, mas, principalmente, implica questionar a não implementação da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, instrumento com o qual é possível inibir ações racistas desferidas contra profissionais negros da saúde, a exemplo de Thaís.

Combater o racismo na saúde é questionar o não preenchimento do quesito raça/cor nos formulários de atendimento, considerando desnecessário pois todos são iguais. Combater o racismo é não deixar as questões raciais para serem discutidas depois, já que há demandas muito mais importantes. Combater o racismo é pensar em ações práticas que permitam uma mudança de cultura, sem as quais dificilmente iremos superar o racismo. Enfim, #VacinacãoSemRacismo #EnfermeiraPretaSim  #PorUmaSaúdeAntirracista

Caio Pinheiro é professor especialista em História Regional e em História do Brasil e Mestre em História, Práticas Sociais e Representações.

Mirian Santos Lima é Assistente Social e Mestranda em Ensino e Relações Étinco-Raciais pela UFSB.

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