O Instagram, com seus 113 milhões de usuários brasileiros, é uma das redes sociais mais influentes do país. Contudo, um paradoxo alarmante surgiu recentemente: o vídeo do deputado federal Nikolas Ferreira, com críticas às novas regras do PIX, ultrapassou 318 milhões de visualizações. Esse número é quase três vezes maior que a totalidade de usuários brasileiros na plataforma, levantando questões inquietantes sobre os algoritmos, interesses corporativos e a interferência da Meta na política nacional.
O alcance massivo do vídeo de Ferreira, um expoente da corrente conservadora, é sem precedentes. Seria este número uma manifestação orgânica de engajamento global ou o resultado de manipulações estruturais da própria plataforma? A Meta, controladora do Instagram, anunciou recentemente mudanças em sua política de moderação de conteúdo, incluindo o fim do programa de checagem de fatos e maior flexibilidade em temas sensíveis, como migração e gênero. Coincidentemente, essas alterações parecem beneficiar vozes alinhadas a uma agenda conservadora, enquanto a empresa se alia ao ex-presidente americano Donald Trump contra a regulamentação de redes sociais por governos.
A Meta não esconde seu viés ideológico. Mark Zuckerberg, CEO da empresa, declarou abertamente que trabalhará para enfrentar países que, segundo ele, “perseguem empresas americanas e pressionam por mais censura”. No entanto, o que essa “liberdade de expressão” realmente significa? Para muitos críticos, trata-se de um eufemismo para promover narrativas alinhadas aos interesses corporativos e políticos da empresa, mesmo que isso signifique desinformar ou desestabilizar contextos democráticos locais.
O caso de Nikolas Ferreira exemplifica o impacto dessa estratégia no Brasil. Como é possível que um vídeo produzido por um político conservador alcance mais de 318 milhões de visualizações, quando o número de usuários brasileiros no Instagram é significativamente menor? Seria este um reflexo da popularidade genuína de Ferreira ou o resultado de uma plataforma que amplifica vozes alinhadas aos seus interesses, ignorando os princípios de neutralidade?
Além disso, o impacto dessas práticas na vida dos trabalhadores brasileiros não pode ser ignorado. No momento em que o país debate alterações na escala de trabalho 6×1, que afeta diretamente a jornada de milhões de trabalhadores, a amplificação de narrativas que desinformam ou manipulam o debate público pode desviar o foco de questões centrais. Com um alcance global e um viés ideológico aparente, a Meta pode estar contribuindo para a desestabilização de pautas trabalhistas legítimas, criando um ambiente onde interesses corporativos se sobrepõem aos direitos dos trabalhadores. Essa interferência agrava desigualdades e mina discussões essenciais para a construção de políticas públicas mais justas.
Mais preocupante ainda é o contexto em que isso ocorre. O Brasil, um país que busca regulamentar o ambiente digital para proteger seus cidadãos, vê suas políticas desafiadas por uma empresa que não respeita as especificidades culturais e democráticas locais. Ao substituir checagens de fatos por “Notas da Comunidade”, a Meta abre espaço para a desinformação e o fortalecimento de discursos extremistas, mascarando essas ações sob o manto da liberdade de expressão.
Essa conduta da Meta evidencia uma tentativa de interferir na política local, moldando narrativas e impondo um viés ideológico que favorece suas próprias agendas. É um ataque direto à soberania do país, que se vê refém de uma empresa global cujo único compromisso real é com seus lucros e interesses estratégicos.
A situação exige uma resposta incisiva. O governo brasileiro deve reforçar sua regulamentação sobre as big techs e garantir que os direitos democráticos dos cidadãos sejam preservados. A transparência nos algoritmos, o compromisso com a neutralidade e a responsabilização das empresas são passos fundamentais para proteger a democracia e impedir que plataformas como o Instagram se tornem ferramentas de manipulação política.
O caso de Nikolas Ferreira é um alerta: enquanto empresas como a Meta continuarem a operar sem supervisão adequada, estarão não apenas influenciando o debate público, mas também determinando quais narrativas terão alcance. É hora de questionar até que ponto a liberdade de expressão promovida por essas plataformas é genuína ou apenas um instrumento para consolidar seus interesses e agendas globais.
Com esse cenário, é imprescindível que as redes sociais não apenas sirvam como palco para debates, mas também como ferramentas que respeitem as especificidades locais e promovam a pluralidade, sem interferências que coloquem em risco os direitos fundamentais da sociedade brasileira.